Sobra milho, mas há importação

Embora os estoques fartos oriundos da colheita recorde do ciclo 2016/17 sejam mais do que suficientes para suprir a demanda doméstica e sustentar as exportações de milho do país, adversidades climáticas no Sul deverão reduzir a safrinha desta temporada e levar frigoríficos de frango e suínos da região, principalmente de Santa Catarina, a ampliar importações do cereal do Paraguai, ainda que o vizinho também esteja enfrentando problemas com a seca.

A opção é justificada pelas vantagens logísticas que a compra no Paraguai oferecem em relação ao grão que está estocado ou sendo colhido agora em outras regiões, sobretudo Mato Grosso. Ainda assim, os frigoríficos não pagarão barato pela matéria-prima, uma vez que a quebra da safra argentina fez os preços subirem no mercado internacional.

Ricardo Gouvêa, diretor-executivo da Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e do Sindicato das Indústrias de Carne e Derivados (Sindicarne), lembra que no Sul, que abriga a maior parte das granjas de frangos e suínos do país, o déficit de milho é normalmente de 3 milhões a 4 milhões de toneladas por safra.

Analistas estimam que esse déficit deverá cair neste ciclo, já que a demanda dos frigoríficos em geral recuou devido a problemas no mercado de carnes. As vendas externas brasileiras de frango estão prejudicadas pelo embargo da União Europeia a 20 frigoríficos do país, o que diminuiu a demanda por milho e farelo de soja para a produção de aves.

Mas, independentemente dessa questão conjuntural, com as facilidades logísticas as importações do produto paraguaio tem crescido de forma estrutural. Segundo o Ministério da Agricultura, as importações dos Estados do Sul somaram 895,319 mil toneladas em 2017, mesmo após a colheita recorde impulsionada pela safrinha mato-grossense. Tendo em vista as compras já realizada por grupos como Aurora e Seara – neste caso na Argentina -, a expectativa é que o volume aumente neste ano.

A mudança estrutural no abastecimento dos frigoríficos, com maior peso do Paraguai, deverá ser consolidada pelo novo trajeto de conexão transfronteiriça conhecida como "rota do milho", que aproximará ainda mais as lavouras paraguaias dos abatedouros de Santa Catarina.

O movimento não deverá atrapalhar muito a vida dos produtores de milho do Centro-Oeste, que têm viés mais exportador e no momento estão sendo favorecidos pelo aumento das cotações internacionais.

"O porto tem sido uma opção bem atrativa e, com a escalada de preços, vimos bastante negócio de safrinha saindo em Goiás e Mato Grosso", afirma Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado. Na bolsa de Chicago, o milho acumula valorização de 15% no ano. No Brasil, a alta é de 25%, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.

Mesmo com as exportações aquecidas, observa Ricardo Gouvêa, de Acav e Sindicarne, se a quebra do Paraguai comprometer entregas neste ano os frigoríficos podem contar com subsídios do governo para trazer milho do Centro-Oeste, onde a oferta é mais do que suficiente. De acordo com ele, representantes do segmento já apresentaram o pleito para o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.

Conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), os estoques brasileiros na virada para a safra 2017/18 somavam 17,7 milhões de toneladas. O volume deverá recuar para 16,4 milhões de toneladas ao término da temporada, ainda um patamar dos mais elevados já registrados. A produção total da temporada é estimada em 89,2 milhões de toneladas pela Conab, com consumo interno previsto em 59 milhões.

"Não importa a quebra da safra. Há muito estoque", afirma Luiz Carlos Pacheco, da consultoria Trigos & Farinhas. Dados do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Deral) apontam que 44% dos 2,1 milhões de hectares semeados com a cultura no Estado apresentam condições médias e 16% da área está com desenvolvimento ruim. Até o momento, 38% da área está em floração e 53% em frutificação, estágios em que a escassez hídrica atual pode causar perdas relevantes e reduzir um pouco mais a produção brasileira em 2017/18 (Assessoria de Comunicação, 17/5/18)

Agricultores brasileiros estão comprometendo milho de 2019 antes mesmo da conclusão da colheita de 2018, com o acentuado aumento dos preços incentivando os negócios, já que uma seca reduziu a produção da Argentina assim como das plantações do Brasil.

“Eu tenho vendido mais do meu milho de 2019 do que o produto deste ano”, disse o produtor Jeferson Milanez Bif.

Até agora ele vendeu a maior parte da sua próxima safra adiantado, um nível sem precedentes de vendas antecipadas, afirmou Bif à Reuters durante a expedição técnica Rally da Safra, que começou esta semana em Mato Grosso, maior Estado produtor de grãos do Brasil.

Os futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago subiram mais de 12 por cento desde o começo do ano e estão quase em uma máxima de dois anos a 3,9525 dólares por bushel.

Eder Bueno, outro agricultor da região norte de Mato Grosso, disse que está adotando uma estratégia similar a de Bif.

A segunda safra de milho brasileira, que é plantada após a soja, representa cerca de 70 por cento da produção inteira do país e o torna o terceiro maior produtor do mundo do cereal, depois dos Estados Unidos e da China.

A Agroconsult, organizadora do Rally, estima uma queda de 12 por cento na produção da segunda safra de milho do Brasil este ano, para 60,2 milhões de toneladas, uma projeção que deve ser revisada ainda mais para baixo, disse André Debastiani, um sócio da consultora.

Apesar das vendas futuras estarem acelerando, produtores estão sentando em cima da safra deste ano, na esperança de que os preços subam ainda mais.

Como resultado, processadores de alimentos e indústrias de carnes do Brasil estão tendo dificuldade para achar vendedores de milho a preços razoáveis nesta temporada.

A Cooperativa Aurora Alimentos vem reclamando há semanas de “retenção especulativa” do milho no Sul do Brasil.

Mais movimento cambial e problemas em potencial com o milho produzido nos Estados Unidos podem levar os preços a níveis mais altos ainda, disse Debastiani, acrescentando que espera que a área de milho do Brasil aumente no ano que vem.

Os preços do milho subiram 26 por cento neste ano, de acordo com dados da Esalq/USP.

“Criadores de frango me ligam em desespero do Sul (do Brasil) tentando comprar milho”, disse o agricultor do Mato Grosso, José Eduardo Soares, que acertou 20 mil sacas do seu milho 2019 para a Cargill em troca de fertilizante.

Em março, a Reuters teve conhecimento de que a JBS SA, a maior processadora de carne do mundo, estava importando milho conforme os preços internos disparavam.

Tarso Veloso, um analista na consultora AgResource, disse que o tempo seco no Sul do Brasil deve prejudicar mais o milho este ano do que em 2016, em referência à pior seca recente.

A Agroconsult estima o déficit de milho no mercado doméstico durante a primeira metade de 2018 em torno de 4 milhões de toneladas, antes de a colheita da segunda safra chegar ao mercado (Reuters, 17/5/18)

A estimativa de produção de milho segunda safra do Brasil, a principal colheita do cereal do país, poderá ser revisada para baixo novamente, diante da falta de chuvas na primeira quinzena de maio em importantes Estados produtores, como Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, afirmou nesta quinta-feira a INTL FCStone.

A consultoria ainda alertou para risco de geada no Paraná, segundo produtor nacional do cereal após o Mato Grosso, na semana que vem. O frio também deverá ser intenso no Mato Grosso do Sul e em São Paulo, segundo a empresa.

A advertência foi feita após a FCStone ter reduzido em 4 por cento a previsão de segunda safra 2017/18 do Brasil, para 60,5 milhões de toneladas na safra, em levantamento divulgado em 2 de maio, já considerando perdas pela estiagem.

“No início de maio, as estimativas da INTL FCStone apontavam para quebra de 21 por cento na safrinha de São Paulo, 16 por cento no Mato Grosso do Sul e 15 por cento no Paraná, contudo, diante do clima desta primeira quinzena (de maio) é quase certo que os números de produção destes Estados serão reduzidos novamente”, disse o analista da consultoria João Macedo, em nota.

Em meio a uma forte seca, o Paraná dará início à colheita da segunda safra de milho nos próximos dias em um cenário pior do que o observado às vésperas da “safrinha” 2015/16, quando outra estiagem também provocou quebra de produção no Estado, informou à Reuters o Departamento de Economia Rural paranaense, na terça-feira.

Como reflexo da situação climática, os preços do milho já subiram quase 8 por cento em maio, para 42,48 reais por saca, o maior nível desde meados de março, segundo indicador do Cepea, uma preocupação para indústrias de carnes, que têm enfrentado margens apertadas.

“O foco da seca se manteve nos Estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, que em 2016/17 foram responsáveis por 38 por cento da produção de safrinha...”, destacou a FCStone.

Segundo Macedo, a expectativa inicial é de que o percentual de quebra nessas regiões se eleve para patamares entre 20 e 30 por cento.

Alguns ajustes também são esperados para a produção de Goiás e Mato Grosso, em menor intensidade, continuou a consultoria.

Na restante do mês, em boa parte dos Estados do Sul do Brasil, Mato Grosso do Sul e São Paulo, as chuvas deverão continuar abaixo da média para o período, de acordo com informação do Agriculture Weather Dashboard, do terminal Eikon da Thomson Reuters.

Além disso, algumas regiões do Paraná deverão ter temperaturas próximas de zero ao final do mês, segundo o terminal.

“As temperaturas também começam a apresentar um maior risco a partir de agora. As previsões apontam para uma queda vertiginosa da temperatura mínima nos dias 21 e 22 de maio...”, pontuou a FCStone.

Isso “cria um cenário favorável para formação de geadas que podem causar danos às plantações do cereal”, acrescentou a consultoria, lembrando que essa preocupação possui capacidade de manter o suporte das cotações (Reuters, 17/5/18)

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