Só falta ao país acertar o passo no seu milho

São amplas as possibilidades de o País se transformar em importante e habitual exportador de milho. As chances de concretizar esse potencial, porém, são mínimas... a não ser que se vençam obstáculos internos, que refreiam vontade e disposição dos interessados em fazer do Brasil um player respeitado no comércio internacional do milho. Essas noções ficaram cristalizadas no 2.º Simpózio Nacional Abimilho, promovido pela Associação Brasileira da Indústrias Moageiras de Milho, em São Paulo, no início de novembro. O evento traçou um panorama do setor e apresentou um balanço atualizado do milho brasileiro: a produção doméstica do grão vem crescendo, especialmente em produtividade, retomou-se o interesse pelo plantio da safrinha (dos 799.000 hectares de 1990-91, ele saltou para 3,552 milhões de ha em 2002-03 e se prevê chegar 3,563 milhões em 2003-04).

A partir de 2001-02, o País passou a figurar como importante exportador, demonstrou dominar bem a tecnologia da lavoura, o que lhe permite preços competitivos no mercado mundial, ainda tem espaço para melhorar a sua performance na exploração e processamento da cultura, pode alavancar o plantio, ante as possibilidades do incremento do consumo de carnes, e tem pela frente uma demanda internacional vigorosa, pelas perspectivas de crescimento da produção mundial de aves e suínos. No entanto - segundo o quadro traçado pelos especialistas no simpósio – , é preciso remover os gargalos que entravam o setor.Entre eles, as deficiências de infra-estrutura( o escoamento das safras esbarra em sérios obstáculos no setor de transportes, armazenagem e instalações portuárias, por exemplo), as dificuldades de transbordo da produção do Centro-Oeste para o Sudeste, Nordeste e países importadores, e a falta de uso habitual dos mecanismos de créditos e comercialização(disponíveis, por sinal, como os contratos e operações de hedgena Bolsa de Mercadorias & Futuros). Também se pôs peso importante na volatilidade dos preços no mercado interno – algo que tem muito a ver com os problemas citados, com a ausência de uma política consistente para o grão e com a instabilidade cambial.Condições para superar esses empecilhos existem, e já demonstradas, garantiu-se no simpósio. Nos últimos dez anos, para um crescimento de 21,9% da área plantada de milho no País, registrou-se um aumento de 44% na produtividade da lavoura. A média nacional, calculada hoje em 3.592 kg/ha safra (2002-03), chega a 4.667 kg/ha no Centro-Sul( com volume de 5.700 kg/ha no Mato Grosso do Sul e de 5.600 no Paraná), e vai até 10.000 kg/ha em bolsões de determindas regiões produtoras.

Houve perda de área milheira para a soja, mas o recuo tem sido compensado pelos ganhos na produtividade, em especial na colheita da safrinha(22,7%, no último ano agrícola), frente aos 14,5% acrescidos no rendimento da soja. A oleaginosa, por sinal, não é apontada pelos especialistas como inimiga do milho: a tecnificação progressiva da lavoura sojeira também beneficia a do cereal, em alguns casos fazendo proveitosa dobradinha, em arrendamentos e parcerias.
       Mercado ávido – Nas apresentações feitas no simpósio, ficou demonstrado que a atual sobra de milho no mercado doméstico é episódica., e há mesmo risco de vir a faltar produto no futuro, pela evidente dependência do suprimento interno ao volume colhido na safrinha.
        No plano internacional, também se registram incertezas. Considera-se crítico o estoque mundial do grão, a China, grande exportadora(15 milhões de toneladas/ano), deve passar a importadora, e o EUA tenderão a utilizar cada vez mais o milho para produção de etanol, combustível que deve ser misturado à gasolina em maior volume.
      Nos últimos anos, o Brasil tem participado do mercado de exportação de milho, com embarques ao redor de 5 milhões de toneladas/ano, volume que a Companhia Nacional de Abastecimento também prevê para a safra de 2003-04, com colheita estimada pelo órgão 
oficial em 44,280 milhões de toneladas. Esse número foi considerado otimista pelos especialistas presentes ao simpósio. Nelson Kowalski, por exemplo, presidente da Abimilho, prefere falar em 40 milhões de toneladas, com um consumo interno de 36 milhões( a Conab o estima em 39,6 milhões de toneladas).

Para o presidente da Abimilho, tem sido estimulante o crescimento de consumo interno, que passou de 18 para 18,5 kg/habitante/ano e deve chegar a 22,2 kg em 2004.”Só nos meses de julho a outubro, o consumo brasileiro subiu 7%, um salto considerável”,comemorou, creditando boa parte do incremento “à campanha da entidade para maior consumo do cereal e a fatores conjunturais, como maior utilização do produto nas escolas, restaurantes industriais e programas de combate à desnutrição”.

Poder-se-ia além, acredita Kowalski, se houvesse maior aplicação no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias de utilização. O milho, além de alimento com alto calor calórico e riquezas em vitaminas e sais minerias, tem largo emprego na indústria, nos mais diferentes campos, desde a panificação até a produção de aço e extração de petróleo.

Ponto essencial, também destacado pelo presidente da Abimilho, é a necessidade de aclarar de vez a questão dos trangênicos. Os impedimentos hoje impostos à questão estão entravando até mesmo estudos por organismos oficiais.O tema, por sinal, foi dos mais discutidos no simpósio, tendo Maurício Antônio Lopes, da Embrapa Recursos Genéricos e Biotecnologia, afirmado que “ o Brasil não pode prescindir mais da incorporação segura de inovações na vertente biotecnológica”. E mais: “ Fechar as Portas às inovações da biologia moderna seria repetir os erros que cometemos no passado, com os fármacos e com a informática, em que o isolamento imposto ao País gerou atraso e dependência.”