A syngenta aposta no milho diferenciado

Milho sempre foi sinônimo de commodity, aquele tipo de mercadoria barata e indiferenciada. A Syngenta, que fatura 900 milhões de dólares com sementes no mundo, pretende mudar essa história. "Queremos que o comprador de milho seja mais exigente e atento às variedades", diz Eduardo Botelho, coordenador do Programa de Qualidade de Grãos da Syngenta. A lógica é simples: a Syngenta convence a indústria de alimentos (o elo do meio da cadeia) a exigir do agricultor grãos com determinadas características. 

O agricultor, então, se vê compelido a comprar certas sementes -- e quem as vende é a Syngenta. No futuro, a empresa espera influenciar a demanda desde a ponta da cadeia. "Já acompanhamos testes de degustação de cereais com donas-de-casa", diz Botelho.

Para o leigo, pode parecer exagerado demais monitorar a qualidade do milho que vai alimentar frangos. Puro engano. A Avipal, quinta maior produtora de carne no país, gostou da história, e seus produtores de milho usam, desde 2002, sementes Syngenta. A Avipal fatura 800 milhões de reais por ano e estima que poderá economizar mais de 10 milhões com ração graças ao uso do milho mais adequado -- com grãos mais nutritivos, duros, densos e uniformes. Essas qualidades reduzem o índice de contaminação por fungos, um veneno para os frangos e para o negócio: bastam 13 grãos contaminados para mandar para o lixo uma saca de 60 quilos. O grão de alta qualidade também ocupa menos espaço de frete e armazenagem e exige menos suplementos alimentares, que encarecem a ração.

A Syngenta espera que a iniciativa eleve sua participação de mercado, hoje de cerca de 20%, nos próximos cinco anos. A aplicação de gestão da qualidade na cadeia do milho é uma necessidade nacional. A produtividade brasileira é de apenas 3 toneladas por hectare, contra mais de 8 toneladas nos Estados Unidos. Produção maior e mais controle abririam portas no mercado externo.

Um exemplo de como ultrapassar essas barreiras foi dado no início do ano por fornecedores da Mococa -- um produtor de milho de Jataí, em Goiás, e a esmagadora Kowalski. Em parceria com a Syngenta, eles conseguiram que sua farinha de milho fosse aprovada na Alemanha para uso em papinha infantil. Esse mercado é tão restrito que não há laboratórios no Brasil capazes de fazer os testes exigidos. O modo de produção usado naquele lote ainda não funciona em escala industrial -- mas a aprovação mostrou que as barreiras fitossanitárias não são intransponíveis.

Revista Exame